quinta-feira, 8 de outubro de 2009
O poeta voador, em Valparaíso (GO)
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Chegou o Soldadinho de Chumbo
pelos Correios em seu rumo
com xilo brilhante
verniz saltitante:
bem no alvo, Editora Prumo!
Vingança circences
faz a vinguança circense:
Arruda, o painel;
Sarney, o papel.
Violações secretas, nem pense!
limerique do pressal
cheira a crime ambiental:
o fóssil em questão
é o dino de então:
um morticínio animal!
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
O cordel é a chama alegre da cultura brasileira
Na Primavera dos Livros, da LIBRE
2009,
Poesia e Cordel, o brincar de rimas
Minha colega de ofício,
meu amigo professor:
venho falar de uma arte,
um verdadeiro primor
que é o cordel nordestino,
obra de grande valor.
o cordel deste País
para levar a mensagem
da cultura de raiz,
porém ouvidos se negam
a ouvir o que o cordel diz.
A rima desse cordel,
coisa de muita valia,
conta histórias de assombro
e também de valentia
e defende o oprimido
das garras da tirania.
Essa arte milenar,
herdada do europeu,
embrenhou-se no sertão,
mas não desapareceu,
ressurge de vez em quando,
e ocupa o lugar que é seu.
O cordel vivo é a casa
da cultura do lugar,
Pernambuco, Rio, Bahia,
Alagoas, Ceará,
mas hoje aqui
é que vamos celebrar.
E se algum diz que não serve
para a cultura escolar,
criticando seus autores,
vendo mal seu linguajar,
lhe digo que é preconceito,
ignorância cavalar.
O cordel conta a história
que é do gosto popular
e se esse gosto do povo
na escola não tem lugar,
é melhor trocar de povo,
ir ensinar em outro lugar.
Usar o cordel na escola,
é ato de cidadania
recheado que é de histórias,
de aventura e poesia
e de quebra ainda ensina
ciência e mitologia.
Sim, porque o cantador
ou poeta de bancada
antes de ir pro papel
dá uma boa estudada,
depois, com muita emoção,
fica a história temperada.
Disseram que pra vencer
nessa globalização
precisa aprender inglês,
coreano e alemão.
Por que é que não se ensina
a linguagem do sertão?
Nessa linguagem se encontra
um destemido vaqueiro,
vestindo o seu gibão,
guarda-peito e perneira,
a perseguir barbatões
rompendo na catingueira.
Quem critica o bom cordel,
sem conhecer, faz besteira,
não sabe que é o alimento
da alma mais brasileira,
a fruta mais saborosa
nas barraquinhas de feira.
O cordel é o vírus bom
por ser tão contagiante.
Basta se ler uma vez,
para prosseguir adiante,
e dessa arte do verso
se tornar logo um amante.
Mas eu sei que o professor
que ainda não usa o cordel
não é por preconceito
contra qualquer menestrel,
pois com uma boa oficina,
eleva o folheto ao ceú.
E aqueles alunos que
entram no mundo letrado
precisam de um diálogo
com o seu mundo falado,
pois é escrito para ser lido,
e em voz alta aclamado.
Sabmeos que a concorrência
no mundo é bem desigual
com filme, música e livro
do estrangeiro imperial
relegando o cordel
para o fundo do quintal.
E quando falo cordel,
falo também do repente,
do rap e do hip hop
e o partido alto, excelente,
falo de coco e embolada
que alegram bem a gente.
Toda forma de poesia
é uma celebração
da beleza desta língua,
com razão e emoção,
pois a vida sem um verso
é baião de dois sem feijão.
Mas, felizmente, hoje em dia,
há outra mentalidade,
com a edição de cordéis
prova de sua qualidade,
além de ser estudado
em muita universidade.
Professor, meu bom amigo,
vou terminar esta fala,
pedindo, encarecido:
leve o cordel pra sala
que vai ganhar é o Brasil,
com essa arte que não cala.
sábado, 4 de julho de 2009
O Dia que a Rodoviária Sumiu
no ônibus do Pedregal,
assustou-se Serafim,
pois não via ou via mal:
em seu lugar costumeiro
havia uma ausência total:
Cadê a Rodoviária?
Sumira sem deixar sinal.
Não havia nem coluna,
nem escada, nem beiral.
Sumiram-se pontos de ônibus,
do branco, nem o cal.
Não havia nem o chão,
por onde os Eixos passavam.
Tudo era um sumidouro,
que a todos abismava,
mas ao abismo profundo,
ninguém um paso arriscava.
Cadê as pastelarias?
Onde as bancas de jornal?
Sumiu-se a livraria,
caiu trânsito e sinal.
Evaporou-se o mármore,
no buraco abissal.
E, na cabeça de Serafim,
a pergunta sem resposta:
Onde vou engraxar sapatos?
Estou com a caixa nas costas.
Não tenho onde me acostar,
não há vão escada ou porta.
Os ônibus já recuam;
a fila não mais se acaba.
Dos quatro cantos, quem disse
que há qualquer retirada?
Não há como ir adiante,
para trás, ninguém se abala.
Na ponta Norte do Eixo,
já se alcança Sobradinho.
Ao Sul, no Bandeirante,
ninguém tira fino.
A Leste, na L2,
mover-se é um desatino.
A Oeste, no Cruzeiro,
não passa nem um menino.
E das pontes atravessadas
do Lago, nem se bulindo.
Sumida a Rodoviária,
num buraco sem destino.
Como vou vender balinha,
mesmo com essa multidão?
Não há sinal de parada,
ninguém me presta atenção.
Tudo virou o buraco,
escavado aqui no chão.
E, à noite, como dormir?
Onde estender o colchão?
Serafim e seus colegas,
roubados de seu rincão.
Como acender a fogueira,
das tábuas de algum caixão?
Onde foi essa danada,
que no chão sempre esteve?
Quem a terá roubado,
e onde foi que a reteve?
Será que ainda volta?
Ou pro céu se foi, bem leve?
João Bosco Bezerra Bonfim
www.lavrapalavra.com.br
sexta-feira, 3 de julho de 2009
mandacaru fulora na seca
barranco abaixo, sede queda
em chuva ou caatinga, sede cacto
e sempre um lume, o lume
nem que esse amor cedesse a todo o malnoves fora as raivas e os contragostos, mel
quarta-feira, 1 de julho de 2009
No Reino de Arapoanga
na tradicional Planaltina,
a cada ano que venho
uma coisa nova me ensina:
que o amor pela leitura
é do saber uma mina.
São professores danados,
teimosos como ninguém:
Zineuda, Amélia e Jordenius
nunca cederam ao desdém
de quem ignora o valor
que a poesia tem.
Numa cidade erguida
sobre a vermelha poeira,
com telhas improvisadas
porque a chuva é passageira,
uma escola bem pequena
é a esperança derradeira
Dos deserdados da terra
de emprego e de canção,
que numa escola de verdade
buscam a última remissão
de superar as misérias,
por meio da educação.
Uma escola onde tudo
era para dar errado
juntaram-se mais professores
como brotando do cerrado,
entusiasmados de fato
para transformar esse fado.
No Cefa de Arapoanga
mais que ensino, alegria
brota em cada sala,
onde pensar é mania
para espantar o mau agouro
da falsa democracia.
Porque no Reino de Arapoanga
democracia não é só votar,
é ler e escrever uma carta,
um livro, um blogue, um jornal;
é mergulhar no Brasil
e em sua cultura popular.
Aqui, no Café com Letrras,
em sua oitava jornada,
quem nunca viu, venha ver,
esse café é uma parada:
onde se sorve a leitura
pelas mãos de estranha fada,
Pelo chapéu de um saci
ou pelo rastro da Iara,
pelos versos de cantoria,
onde a imaginação não para,
pois é sempre reforçada
pela coragem mais rara.
A coragem que é da fé,
da cabeça ao coração,
feita de camaradagem
e também de emoção.
Viva o Cefa Arapoanga,
que reescreve a educação.
(Que venha de lá o café,
venha o suco, o leite, o p ão.
Venha também o abraço
que alimenta a afeição.
E venham teatro e poesia
que dão alma à educação)
João Bosco Bezerra Bonfim, em 1 de julho de 2009
quinta-feira, 16 de abril de 2009
A palavra de Emily Dickinson, pela tradução de Augusto de Campos
There is a word
Which bears a sword
Can pierce an armed man --
It hurls its barbed syllables
And is mute again --
But where it fell
The saved will tell
On patriotic day,
Some epauletted Brother
Gave his breath away.
Wherever runs the breathless sun –
Wherever roams the day –
There is its noiseless onset –
There is its victory!
Behold the keenest marksman!
The most accomplished shot!
Time's sublimest target
Is a soul "forgot!" I
Uma palavra se abre
Como um sabre –
Pode ferir homens armados
Com sílabas de farpa
Depois se cala –
Mas onde ela caiu
Quem se salvou dirá
No dia de desfile
Que algum Irmão de armas
Parou de respirar
Aonde vá o sol sem ar –
Por onde vague o dia –
Lá está esse assalto mudo
Lá, a sua vitória!
Observa o atirador arguto!
O tiro mais perfeito!
O alvo do Tempo
O mais sublime
É um ser “ignoto”!
Dickinson, Emily, 1830–1886. Emily Dicinson: não sou ninguém. Tradução de Augusto de Campos. Campinas, Ed. da Unicamp, 2008
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Ponto final
Do ônibus
Há esmero na espera
Entre a parada e a rua
As horas são dias
e os dias consomem todo o ar
Sobre o meio-fio,
Equilibrista
Sob a coberta,
Mais que as goteiras
E résteas
Então, para que o aceno,
Se há muito já não há linha?
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Chornicas portuguezas
Esses moinhos de vento,
qual bandeiras a agitar;
a arar os ricos ares
de aquém e d'além mar.
Nem de longe semelham
os mastros a tremular,
junto às costas dos brasis,
com seu brasão armilar.
No cimo dos montes, moem
os volts que hão de torrar
milhões de euros carrascos
A esta terra a castigar:
deram-te estatuto europeu,
mas não te fizeste par.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
De oradores e orações
De mil seiscentos e oito
Nasceu o Padre Vieira
Astuto, sutil, afoito
Quatrocentos e um anos
Se foram desde essa data
Mas nenhum outro Vieira
Teve a mesma voz exata
Uns, descrentes que são
Tonitroam suas bravatas
Outros, sem alma na voz
Só sabem é bater latas
Quatrocentas voltas dá
Em sua retumbante tumba
Ao ouvir a cantilena
Menos da voz que da bunda
Que emitem, urubus
Cada falsa indignação
Putrefata a verter pus
Não da boca, mas dos cus
Peidorreira malsinada
De quem comprou o mandato
Pois não tinha força ou voz
Para sair candidato
Oh, Vieira que a videira
Que deu tão vinhoso fruto
Agora só acha de dar
Esses desgracidos putos!
João Bosco Bezerra Bonfim