O Correio Braziliense de sábado último, ao estampar a foto dos deputados meliantes e exigir punição a eles, parece assumir uma postura cada vez mais subserviente a Arruda. Tipo assim: já que ele foi preso, os outros precisam ser punidos também.
C M YK
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32 • Cidades • Brasília, sábado, 13 de fevereiro de 2010 • CORREIOBRAZILIENSE
» LUÍSA MEDEIROS
» SAMANTA SALLUM
Menos de 24 horas depois
da prisão do governador
afastado José
Roberto Arruda (sem
partido) e do pedido de intervenção
federal em Brasília, a base
aliada do governo na Câmara Legislativa
está se desmanchando.
A defesa feroz do governador não
faz mais parte do discurso dos
deputados governistas. Quem
não é citado nas denúncias da
Caixa de Pandora ou na suposta
tentativa de suborno de Edson
Sombra prefere ficar longe da
crise. Depois da sucessão de decisões
judiciais atingindo o Executivo
local, o clima que paira na
Casa é de temor. Para evitar o
pior, deputados decidiram mostrar
serviço. Fazem parte da agenda
pós-carnaval a aprovação dos
pedidos de impeachment do governador,
a composição da CPI
da Codeplan e a análise dos processos
de quebra de decoro parlamentar
de oito distritais.
O comportamento volátil dos
distritais da base aliada deu sintomas
claros ontem. Após reunião
de quatro horas na presidência
da Casa com a presença
de 14 deputados, o relator da Comissão
de Constituição de Justiça
(CCJ), Batista das Cooperativas,
até então vice-líder do governo,
anunciou que vai apresentar na
próxima quinta-feira relatório
pela aprovação dos três pedidos
de impeachment
contra
Arruda. Batista sempre defendeu
que a comissão deveria analisar o
mérito da questão e não apenas a
admissibilidade dos pedidos de
impedimento do governador. A
tese abria a possibilidade de os
pedidos serem arquivados na
CCJ e não passarem pela Comissão
Especial, como prevê a legislação
federal que regulamenta o
impeachment. A postura do governista
e amigo do governador
afastado mudou com os recentes
acontecimentos políticos. “Li e
interpretei 12 mil páginas para
dar um parecer pela admissibilidade
dos pedidos”, contou.
O relatório dos pedidos precisa
ser apreciado pelos cinco integrantes
da CCJ. A saída de Geraldo
Naves (DEM) da Câmara Legislativa
— que se entregou ontem
à PF — deixou vaga a presidência
da comissão, que deverá
ser preenchida por Paulo Roriz
(DEM). Caso sejam aprovados, os
pedidos serão encaminhados para
a Comissão Especial, cuja composição
pode ser definida na próxima
semana. Não há certeza se
os parlamentares respeitarão os
prazos determinados por lei (veja
arte). Integrante da CCJ, Paulo Tadeu
defendeu que a Comissão Especial
aprecie os pedidos assim
que chegarem. Agora, ele acha
possível acelerar os trabalhos. “A
prisão do governador e o pedido
de intervenção fizeram com que
os parlamentares mudassem de
posição”, constatou o petista.
Interesses
A verdade é que está difícil encontrar
na base governista quem
queira se expor defendendo os
interesses de Arruda. Não há candidatos,
por exemplo, para preencher
as vagas na CPI da Codeplan
abertas com a saída de Alirio Neto
(PPS) e de Geraldo Naves. Assim,
os nomes de José Antônio
Reguffe (PDT) e de Jaqueline Roriz
(PMN) devem ser indicados
como os novos membros. “Só entro
na CPI se for para investigar a
fundo, não vou participar de jogo
de cena”, disse Reguffe.
O corregedor da Casa e amigo
de Arruda, Raimundo Ribeiro
(PSDB) — que leu a carta de
afastamento do governador na
última quinta-feira —, vai passar
o carnaval analisando o inquérito
do STJ com as denúncias da Operação
Caixa de Pandora. “Não sei
os outros, mas sou coerente e
meu comportamento continua o
mesmo. Nunca me coloquei como
governista nem como oposição”,
comentou Ribeiro. Em 26 de
fevereiro, ele entregará o relatório
para abertura ou não de processo
disciplinar na Comissão de Ética
contra os oito deputados envolvidos
nas denúncias. Antes da prisão
de Arruda, havia forte pressão
para que a comissão arquivasse
os processos ontem mesmo. Mas
o presidente da Comissão de Ética,
Bispo Renato (PR), bateu o pé
e se negou a aceitar a proposta.
O deputado Paulo Roriz (DEM),
recém saído da secretaria de Habitação,
está mais independente
depois da ordem do DEM de se
descolar do governo Arruda. Ao
sair do GDF, era a esperança de Arruda
para reforçar a tropa de choque
na Câmara. Mas já não demonstrava
disposição para ser escudeiro
do governador afastado.
CAIXA DE PANDORA
Opinião do internauta
Leitores do Correio
comentaram no site a
decisão do ministro
Marco Aurélio Mello, de
rejeitar o pedido de
habeas corpus do
governador afastado José
Roberto Arruda. Veja
algumas opiniões:
Clovis Hachuy
“Parabéns ao ministro
Marco Aurélio. Não
poderíamos esperar outro
resultado de seu
julgamento. Mostra para
o povo e para o mundo
que o STF é
independente. Não julga
sob pressão.”
Francisca Silva
“Intervenção, não.
Precisamos terminar as
obras. Agora todo mundo
é santo. A polícia tem que
investigar desde o
governo passado.
Ninguém é santo, nem o
Sombra.”
Eliseu Lima
“Parabéns aos dignos
senhores juízes. Merecem
toda a nossa admiração e
consideração por fazerem
valer a lei brasileira. Eu
achava que era só pobre
que ia para na cadeia.
Mas Vossas Excelências
me mostram que a lei é
para todos e que
ninguém está
acima dela.”
Helder Silva
“Ainda não é hora para
comemorar, afinal de
contas, não é só no DF
que existe corrupção. A
corrupção está
entranhada em todos os
estados e prefeituras do
nosso país, nas quais os
chefes do Executivo
compram o apoio dos
membros do Legislativo.
O pior de todos são os
parlamentares que
traem o povo.”
Eduardo Aguiar
“Fica, Arruda, na cadeia.”
Sérgio Torquato
“Só o Judiciário mesmo
para fazer alguma coisa.”
Alisson Silva
“No Planalto Central,
perto do VLT, um mineiro
de Itajubá viu o sol
quadrado amanhecer…
Complete esse sambaenredo.”
Carlos Guilherme
Vasconcelos
“E os demais deputados
distritais que ganharam
dinheiro com a
quadrilha? Vamos colocálos
na cadeia também.”
Joaquim Aragão
“Agora, sim, temos
perspectivas de
comemorar os 50 anos.”
Mário Luiz Itaborahy
“Parabéns, senhor
ministro Marco Aurélio.
Só torço, agora, para seu
par, Gilmar Mendes, mais
uma vez, não desmandar
sua decisão”
Rafael Tavares
“Só falta a intervenção
federal, já que está tudo
uma bagunça.”
Redyaj Silva
“Não podemos esquecer
desses deputados distritais
que defendiam o Arruda.
Vamos trabalhar para que
nenhum consiga a
reeleição.”
Luiz Carlos Tanaka
“Alguma coisa está
mudando neste país.”
Após três dias de varredura nos
gabinetes de deputados da Câmara
Legislativa, os agentes da
Departamento de Atividades Especiais
(Depate) da Polícia Civil
do DF não encontraram nada que
comprovasse a prática de escutas
ambientais e grampos telefônicos
ilegais na Casa. Há 10 dias, os policiais
goianos Luiz Henrique Ferreira
e José Henrique Dares Cordeiro
foram detidos na saída sul
de Brasília por suposta prática de
arapongagem nas dependências
da Câmara. Os dois pertencem à
Delegacia Estadual de Repressão
a Narcóticos (Denarc) e estavam
na capital sem o conhecimento
da corporação de Goiás. Eles citaram,
em depoimento, que o exfuncionário
da Câmara Francisco
do Nascimento Monteiro os teria
contratado, supostamente a mando
do governador afastado José
Roberto Arruda.
Segundo o delegado Fábio
Souza, responsável pela varredura,
foram vistoriados os gabinetes
dos 24 distritais, da presidência
e vice-presidência da Casa,
da liderança do PT e da segunda-
secretaria da Mesa Diretora.
“Não foi encontrado nada”,
garantiu. Sobre a possibilidade
de os arapongas terem retirado
os grampos durante a semana
que se passou depois da detenção
dos policiais goianos, o delegado
disse que a polícia do DF
agiu assim que foi acionada. “Começamos
a varredura assim que
fomos solicitados pela presidência
da Casa”, afirmou. Para localizar
os equipamentos clandestinos,
os policiais usaram um detector
de semicondutor, capaz
de encontrar microfones e outros
metais, e telescópios. Um relatório
com o resultado do trabalho
será entregue ao presidente
da Casa, Wilson Lima (PR). (LM)
Sem vestígio de grampos
Deputados da situação não adotam
mais uma postura tão pró-Arruda.
Depois do carnaval, processos
de impeachment deverão andar
Leonardo Prudente (sem partido)
Aparece em dois vídeos gravados por
Durval Barbosa. Num deles, recebe
dinheiro e guarda em todos os
bolsos e nas meias. Em outro, reza
pela vida de Durval. Também é
citado em conversas como
beneficiário de contratos com o
governo e de pagamentos
mensais de R$ 50 mil. Devido às
denúncias, renunciou à Presidência da
Câmara de Legislativa.
Eurides Brito (PMDB)
Aparece em vídeo gravado por Durval
recebendo maços de dinheiro,
durante a campanha de 2006, e os
guarda na bolsa. A deputada é
também citada em depoimento de
Durval como beneficiária de
pagamento mensal no valor de R$ 30
mil em troca de apoio para o
governador.
Alvos de denúncias
Júnior Brunelli (PSC)
Foi filmado recebendo um
maço de dinheiro de Durval
na campanha de 2006. O exsecretário
de Relações
Institucionais também
declarou em depoimento
que Brunelli recebia mesada
no valor de R$ 30 mil desde
2002. Ele é o autor da
Oração da Propina, que ficou célebre
Benício Tavares (PMDB)
Em depoimento, Durval
Barbosa disse que Benício
Tavares recebia R$ 30 mil
ainda no governo anterior,
para favorecer a
candidatura de Arruda.
Ele também foi alvo de
vídeo gravado por Durval,
mas não aparece
recebendo dinheiro.
Rôney Nemer (PMDB)
Citado em conversa
gravada em que o
então chefe da Casa
Civil, José Geraldo
Maciel, diz que ele
recebia R$ 11,5 mil do
assessor de imprensa
Omézio Pontes.
Rogério Ulysses
(sem partido)
Citado em conversa
em que o então chefe
da Casa Civil, José
Geraldo Maciel, disse
que pagava R$ 50 mil
para o deputado, que
ainda recebia R$ 10
mil do assessor de imprensa Omézio
Pontes. Além disso, ele foi alvo de ação de
busca e apreensão em sua casa e no
gabinete na Câmara Legislativa.
Aylton Gomes (PR)
Citado em conversa em
que o então chefe da
Casa Civil, José Geraldo
Maciel, disse que pagava
a ele R$ 30 mil.
O deputado, segundo
o diálogo, ainda
recebia R$ 10 mil
de Omézio Pontes.
Benedito Domingos
(PP)
Em depoimento, Durval
Barbosa disse que
Benedito recebeu R$ 6
milhões para apoiar a
campanha do governador
Arruda. Ele também é
citado em conversa de
José Geraldo Maciel como beneficiário de
dinheiro que lhe seria entregue pelo
conselheiro Domingos Lamoglia.
Confira os deputados distritais, em exercício de mandato, podem ser processados por quebra de decoro parlamentar:
Batista: pela admissibilidade dos pedidos de impeachment
Policiais civis do DF fizeram varredura em toda a Câmara Legislativa
A fuga dos distritais aliados
Carlos Moura/CB/D.A Press
Carlos Silva/Esp. CB/D.A Press
Fotos: Carlos Moura/CB/D.A Press
Cadu Gomes/CB/D.A Press - 15/12/09
Carlos Vieira/CB/D.A Press - 11/9/08
Carlos Silva/Esp. CB/ D.A Press - 10/12/09