O texto sobre cantoria da agenda da Caixa de 2010 foi escrito por mim. Abaixo, a íntegra do "verbete", que faz parte de um conjunto de depoimentos sobre a cultura popular brasileira. A ilustração foi retirada da obara de Alexandre Rosalino.
Uma boa cantoria enche de prazer as noites do sertão e de muitas cidades onde haja admiradores da cultura brasileira. E quem é que não se encanta ao ouvir os repentistas? Dedilhando em suas violas, cantam versos carregados de emoção. Ou contam façanhas sobre si, ao mesmo tempo em que criticam o adversário. E os ouvintes ficam à espera de que o outro cantador se saia com uma tirada ainda melhor, para ver quem vence o desafio. No fim, quem ganha é a plateia.
Mais que ser bom poeta, o cantador precisa se informar das novidades e também conhecer História, Geografia, Mitologia, Religião e Ciências. É uma verdadeira enciclopédia, que vai espalhando sabedoria ao cantar. Em sextilha, moirão, gemedeira, galope à beira-mar e em outras tantas modalidades de cantoria, improvisa sobre as devoções do povo, o cangaço, a valentia e até antigos romances de cavalaria.
No início, apresentavam-se em fazendas ou pequenos povoados. Hoje, tendo levado a arte do Nordeste para todo o País, participam de festivais, de programas de rádio e de televisão, além de gravar CDs e vídeos. E mesmo quem nunca assistiu a uma peleja, pode ler as mais famosas, reescritas em folhetos de cordel, o que aumenta ainda mais o gosto pelo repente.
João Bosco Bezerra Bonfim, poeta, pesquisador das artes verbais (cordel, cantoria) e outras manifestações da poesia popular.
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João Bosco Bezerra Bonfim
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