quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Ponto final

Entre a demora e o não vir
Do ônibus
Há esmero na espera

Entre a parada e a rua
As horas são dias
e os dias consomem todo o ar

Sobre o meio-fio,
Equilibrista

Sob a coberta,
Mais que as goteiras
E résteas

Então, para que o aceno,
Se há muito já não há linha?

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Chornicas portuguezas

I - Moinhos



Esses moinhos de vento,

qual bandeiras a agitar;

a arar os ricos ares

de aquém e d'além mar.

Nem de longe semelham

os mastros a tremular,

junto às costas dos brasis,

com seu brasão armilar.

No cimo dos montes, moem

os volts que hão de torrar

milhões de euros carrascos

A esta terra a castigar:

deram-te estatuto europeu,

mas não te fizeste par.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

De oradores e orações

No dia seis de fevereiro
De mil seiscentos e oito
Nasceu o Padre Vieira
Astuto, sutil, afoito

Quatrocentos e um anos
Se foram desde essa data
Mas nenhum outro Vieira
Teve a mesma voz exata

Uns, descrentes que são
Tonitroam suas bravatas
Outros, sem alma na voz
Só sabem é bater latas

Quatrocentas voltas dá
Em sua retumbante tumba
Ao ouvir a cantilena
Menos da voz que da bunda

Que emitem, urubus
Cada falsa indignação
Putrefata a verter pus
Não da boca, mas dos cus

Peidorreira malsinada
De quem comprou o mandato
Pois não tinha força ou voz
Para sair candidato

Oh, Vieira que a videira
Que deu tão vinhoso fruto
Agora só acha de dar
Esses desgracidos putos!


João Bosco Bezerra Bonfim